quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Café

"Naquela manhã, o café era quente e os pães, macios. As velhas vidraças permaneciam embaçadas e os beirais de suas janelas ainda guardavam a poeira que insistia em fazer morada naquele ambiente tão distinto. Os bules eram lustrosos em cerâmica de cores e tamanhos variados, despretenciosamente dispostos sobre a gelada mesa de mármore que, por sua vez, fazia trio com duas velhas cadeiras de madeira maciça. 

Nada mudou depois da manhã de uma data já esquecida, quando a primeira xícara de café fora servida. Tudo está como era desde o princípio. A decoração se mantinha da mesma forma que o dono, um snehor cuja história pouco se sabe, um dia idealizou. Ou não. Talvez cada item que compunha aquele cenário fora alocado de maneira desproposital e ingênua.


No interior da loja, o espaço ainda era tomado pela sonolência e preguiça das primeiras horas do dia de todos que a visitavam religiosamente para dejejuar. Naquela pequena constução de poucos metros quadrados, o abajour, herança de não se sabe quem ao pouco afamado proprietário do lugar, se funde às mesmas luzes que emanam de cada cliente. Discretamente, toma seu lugar num canto qualquer para dar um pouco de cor de vivacidade às conversas despretenciosas. É certamente ali que se encontram as moças solteiras à procura de rapazes e casais fadados á rotina diária de sentarem frente um ao outro e conversarem sobre o nada. repetidamente, dia após dia, como se fosse a pintura em um velho quadro."


Texto produzido na oficina "O Escritor Como Guia" com a escritora Tatiana Salen Levy. A atividade era escrever um texto que iniciasse um romance, baseado em um quadro.
São João de Meriti, 10 de agosto de 2011
Por Jéssica Oliveira